Como sabê-los ?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Assim que cheguei à escola, um colega me perguntou aos berros: “E aí? Estudou pra prova?”. Claro que respondi “sim”. Afinal, se eu dissesse que não, ele não se sentaria perto de mim, pois não seria lucrativo para ele. E na verdade não foi. Não por minha culpa, que isso fique claro.
Sei que o termo que o meu colega deveria ter usado era “avaliação”, pois a orientadora do meu colégio disse que esse é o nome que deve ser usado. “Prova”, segundo ela, é muito assustador. Eu, na verdade, acho que funciona assim: o aluno tenta “provar” que passou várias horas de tédio estudando turbilhões de conteúdos que ele nem sabe para que servem, e o professor “avalia” se a quantidade de tédio foi suficiente ou se o educando -  termo também politicamente correto - precisa se castigar mais horas por dia.  Chamar, então, de “prova”, “exercício avaliativo” ou “avaliação” não diminuiu meu desespero diante daquele amontoado de verbos no imperativo. Pronto! Esta nomenclatura eu já aprendi: verbos imperativo. Será por que, heim?
A avaliação era de Português, e o que não faltavam,em minha memória, na hora da prova, eram conceitos. Não sei para que inventaram tanto nome. Mas naquele exercício tive uma surpresa: Fernando Pessoa! Ele mesmo, num poema pequenininho que eu já tinha lido várias vezes. Até suspirei quando o vi. Escondido, dei até uma piscadela para o poema. Ali estava minha melhor companhia para aquele momento. Pessoa! Quem diria!
Li o poema. Claro que não pude me deliciar, pois o tempo, num dia de prova (e não só), é grande inimigo. E lá fui para a primeira questão. Os imperativos bem armados com gramáticas me pediram que destacasse no texto os pronomes relativos. E voltei eu assassinando o poema, mas fiquei firme. Daí vieram mais umas três ou quatro questões pedindo para eu verificar classes gramaticais, além de fazer análises sintáticas de trechos do poema. Ali terminei de assassinar Pessoa e tive raiva de tê-lo conhecido antes.
Esbarrei-me com ele várias vezes em situações semelhantes. Já não gostava mais de encontrá-lo. Não sorríamos juntos, nem sofríamos de amores. Nos duelávamos a cada exercício em que ele se fazia presente. Incrível! Depois que lancei guerra, depois que tomei verdadeira antipatia por ele e por toda corja pertencente ao mesmo ofício, notei que ele sempre estava ali e sempre colega dos mesmos imperativos.
Vou ter uma nota baixa no boletim por causa daquela prova. Ela valia muitos pontos. Eu conhecia aquele poema. Faço questão de não informar o título para que ninguém mais tenha o desprazer em lê-lo. Desculpe-me, colega, não passei cola, porque estava ocupado demais assassinando o meu ídolo. 

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